De volta para o futuro

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Li a manchete incrédulo e em tempos de “pós-verdade” continuei não acreditando na repercussão gerada. Decidi então conferir com meus tristes olhos, que a terra há de comer, o vídeo em que nosso instituído presidente exprime suas ideias acerca do papel da mulher na sociedade. Não há explicação para aquele show de vergonha alheia! A não ser  que consideremos a clássica trilogia “De volta para o futuro”, especificamente o segundo filme. Talvez o vilão Biff Tannen, quando viajou no tempo a bordo do DeLorean, tenha desviado sua rota e entregue o exemplar de uma revista feminina dos anos 1950 para algum assessor “antenado” do nosso guia. Imagina, uma informação da maior nação do universo e vinda do futuro? É de se considerar!

Outra hipótese que não explica o discurso, mas justifica a “condição” do seu autor, foi apontada por um especialista de Harvard. O professor Bruce Ackerman, diretamente da “América” de Trump, disse recentemente que a atual crise do Brasil tem raízes na decisão do povo brasileiro quando rejeitou o sistema parlamentarista no plebiscito de 1993, após o impeachment do Collor. Ele acredita que esta opção proporciona uma base mais estável para a democracia.

Infelizmente ainda não conseguimos viajar no tempo (como no filme) para comprovar esta análise. A única forma próxima disso é recorrer à memória. Lembro que na época do plebiscito, estava na sétima série e minha professora de Geografia solicitou uma atividade sobre o assunto. A sala foi dividida em grupos, onde alguns defenderiam um sistema de governo (presidencialismo, monarquia ou parlamentarismo) e outros apontariam seus problemas. Por sorteio, meu grupo deveria convencer a classe que o parlamentarismo era a melhor opção para o país.

No dia da apresentação, tínhamos que elucidar nossos argumentos e aguardar o confronto do restante da sala. Geralmente era o momento de vingança daquele “amigão” que pediu em vão a resposta para a pergunta 2 da prova de matemática.

Nosso grupo era formado por cinco rapazes e como não tínhamos o mesmo embasamento do professor de Harvard, lembro que nossa estratégia era a mesma dos programas eleitorais gratuitos, tentamos comprovar a ineficácia dos outros sistemas de governo com uma dose de sensacionalismo. Penduramos no quadro negro imagens que “ilustravam” a miséria de países que não eram parlamentaristas. Resultado: fomos bombardeados pelo resto da sala! Até o Carlão, que só nos dava a honra de ouvir a sua voz durante a chamada, fez perguntas capciosas, como retaliação à chuva de papel amassado a que era submetido “esporadicamente”. Mas o grande massacre à nossa apresentação foi executado por três garotas: Lívia, Renata e Denise. Inteligentes e contestadoras natas, não se intimidavam com nenhum assunto! Obviamente, nossos argumentos não resistiram a dois questionamentos e, antes mesmo do socorro da professora, já tínhamos guardado as polêmicas fotos. Naquele momento, tive a certeza que até uma monarquia regida pelo Rei Roberto Carlos seria melhor que um Primeiro Ministro no Brasil. Assim como os brasileiros da época, que optaram por continuar votando para presidente.

Se realmente há alguma relação entre aquele plebiscito e a nossa triste realidade neste momento, não tenho a pretensão de acreditar que a minha desastrosa defesa do parlamentarismo influenciou em algo. O fato é que nunca mais encontrei minhas colegas da sétima série, mas onde quer que estejam, tenho certeza que contestaram com veemência o discurso infeliz do nosso presidente.

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