Eles sabem que eu sou negro?

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Foi o que perguntou o fotógrafo Chris a sua namorada Rose, antes de viajar para ser apresentado aos pais dela. Esta cena está no trailer do filme “Corra!” e dá uma pequena amostra da grande experiência que é assisti-lo. A estreia na direção de Jordan Peele pode ser classificada como um terror psicológico com uma boa dose de crítica social. Mas isso é apenas um rótulo, há outras sutilezas naquele universo peculiar.

Não quero expor muitos detalhes do filme pois as reviravoltas ou “plot twists” como preferem os moderninhos, também fazem parte do impacto que ele causa. Mesmo assim, o que me motivou a escrever este texto é o aspecto que salta aos olhos desde as premissas: o preconceito e seus desdobramentos.

A estranheza que as situações e diálogos me causaram faz parte das intenções do diretor. Peele, como bom comediante, sabe usar a ironia e o sarcasmo para dar o seu recado. Em dado momento, o clima naquela “festa estranha com gente esquisita” me causou desconforto semelhante ao de ouvir o discurso de um desses figurões reacionários, tão na moda atualmente!

Mesmo com algumas diferenças entre o racismo dos Estados Unidos e o nosso, é impossível assistir às cenas e não se lembrar de alguma situação que já presenciamos, sentimos na pele ou que nos foi relatada. A não ser, claro, se você viveu os últimos cinquenta anos em Marte ou no Butão.

Vivemos uma crise sem precedente, insuflada pela visão cômoda de que o problema está sempre em quem não tem o mesmo ponto de vista que o nosso. Infantilmente, nos apegamos a crenças rasas e caminhamos em massa como gados hipnotizados, manobrados pela força do medo.

Apesar de sermos a maior população negra fora da África, o racismo faz com que tenhamos um olhar viciado sobre o preconceito no nosso dia-a-dia e que banalizemos evidências sem critica-las. Será que é coincidência o Brasil ser o país que mais consome prancha de fazer chapinha no mundo?

Pretensiosamente sugiro que, antes de escolher o próximo inimigo íntimo para discutir ou bloquear nas redes sociais, confira neste ótimo filme, o que uma visão distorcida sobre o outro pode ocasionar. Corra para o cinema!

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