Durante reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, nesta quarta-feira (21), o deputado Marco Aurélio (PT) questionou o presidente da grife espanhola Zara no Brasil, Enrique Huerta Gonzalez, sobre a comercialização de roupas produzidas em oficinas com trabalhadores em condições análogas à escravidão.
Convidado pela Comissão de Direitos Humanos, o auditor do Ministério do Trabalho Luiz Alexandre de Farias disse que a Zara terceiriza a produção de roupas, confeccionadas em oficinas de costuras clandestinas, pois não possuem registros como CNPJ e nem recolhem encargos. Segundo ele, as oficinas eram insalubres com fiações expostas e algumas abrigavam famílias com crianças que viviam nesses ambientes, em condições degradantes e “super exploradas”.
Ainda segundo Farias, os trabalhadores recebem R$ 2 por peças, outros R$ 2 são pagos para a oficina e R$ 2 iam para a manutenção das máquinas. Ele disse que as peças que a Zara pagava R$ 6 para a produção eram encontradas por R$ 139 em suas lojas.
O deputado Marco Aurélio sugeriu ao auditor que haja um controle das notas fiscais, fazendo cruzamento de dados entre o que é produzido e o que é comercializado. “Se saída de mercadoria é muito maior que a entrada, a Secretaria da Fazenda vai pode identificar irregularidade. Poderíamos fazer uma ação em massa, e isso interessaria ao governo, para evitar evasão de receita e também para identificarmos a situação dos trabalhadores”, disse Marco Aurélio.
Desconhecimento – Já o presidente da Zara no Brasil, Enrique Huerta Gonzalez, disse aos deputados que desconhecia o regime de escravidão nas oficinas fornecedoras da grife. Ele e o diretor de comunicação da marca, Jesus Echeverria, disseram repudiar a exploração de mão de obra e que a Zara contrata no país cerca de 50 fornecedores têxteis, que produzem mais de cinco milhões de peças e contratam mais de sete mil trabalhadores.
O deputado Marco Aurélio questionou os executivos se eles nunca questionaram a origem dos produtos fornecidos pelos fornecedores. Eles afirmaram que realizam auditoria, e pode ter havido falha no processo para não identificar o trabalho escravo nas oficinas terceirizadas.
Caridade – O auditor Luiz Alexandre propôs aos representantes da empresa a realização um pacto que, por meio de um plano piloto, a Zara patrocinasse a capacitação dos trabalhadores de oficinas legalizadas e assumisse o compromisso de comprar deles a produção. “Isso seria uma maneira de sanar os danos trazidos aos trabalhadores”, ponderou o representante do Ministério Público.
Os representantes responderam que iam estudar a proposta. Em relação a uma compensação, eles afirmaram que fazem doações a instituições assistenciais.