Feliz Natal, Barcelona e a Fantasia

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Feliz Natal

Feliz Natal

Os grandes estúdios de cinema, assim como todos os meios de comunicação, aproveitam o “espírito natalino” para promover filmes com esta temática. Basta consultar a programação do cinema mais próximo e reparar que é razoável a quantidade de lançamentos com potencial para beliscar uma lasquinha do lucrativo “panetone”.

No capítulo Filmes de Natal sobre a história da sétima arte, encontram-se desde clássicos como “A Felicidade Não Se Compra” e “Milagre na Rua 34”, até o divertido “Esqueceram de Mim” e suas sequências. De diferentes formas, todos remetem à celebração do Natal e sua interferência na vida das pessoas.

Recentemente assisti “Feliz Natal”, filme de 2005, desses produzidos em parceria (neste caso entre França, Alemanha e Inglaterra) que concorreu ao Oscar de filme estrangeiro naquele ano. Ao contrário do seu homônimo brasileiro, dirigido por Selton Mello em 2008, o “Feliz Natal” em questão mostra o lado transformador da festa universal sob um olhar mais otimista.

O cineasta francês Christian Carion se valeu de um fato ocorrido em 1914, durante uma batalha em terras francesas na primeira guerra mundial, quando soldados franceses e escoceses tentavam retomar um território ocupado por tropas alemãs. Entrincheirados em plena noite de natal, os comandantes “inimigos” promovem um improvável cessar fogo para que todos celebrem a data, com direito à missa, canções natalinas e até partida de futebol.

Os melhores filmes de guerra, ao contrário do que muitos pensam, não são aqueles com imagens realistas do “front”, podem até se valer disso, mas com o objetivo de mostrar a banalidade desta prática e as duras consequências que a guerra traz para soldados que muitas vezes não compactuam com o que estão defendendo.

A história (su)real, que inspirou “Feliz Natal” o coloca entre os grandes filmes do gênero, apontando para o quanto ideologias separatistas, a “desprezível”cultura militar ou a estupidez de pessoas no poder, desumanizam indivíduos para servirem aos ideais de outrem. Sem ser piegas, o espírito natalino protagoniza um evento onde centenas de pessoas optam pela graça em detrimento à brutalidade, num filme que vai além da mera promoção mercadológica de fim de ano.

Fantasia 1

Barcelona

Após uma semana do baile que o Barcelona deu no Santos, muito se falou sobre lição, pioneirismo, abismo técnico, apatia, etc e etc…

Acho que realmente estamos testemunhando algo histórico e o Santos não foi a primeira grande equipe a sofrer com o time catalão. Talvez tenhamos superestimado o time brasileiro, ou fantasiado que o Barça, cuja intimidade com a fantasia não permite que ela floresça nos adversários, poderia ter uma noite ruim. Sei lá, talvez por uma indisposição estomacal de seus principais jogadores ou uma “tonteira” como aquela do lateral Branco após beber a água batizada pelos argentinos na Copa de 1990.

A superioridade do time de Guardiola foi tão grande que mexeu com o imaginário dos brasileiros, especialistas ou não. Falou-se do “complexo de vira-lata” de Nelson Rodrigues até da “inveja do pênis” de Freud, entre outras analogias.

A contextualização técnica pode ser útil para quem insiste em aproximar o futebol da ciência, mas se fizermos uma “redução histórica” sobre os grandes times, veremos que todos eles cumpriram o seu ciclo, seja ele de um mês ou de uma década. Em algum momento o ciclo azul-grená também findará… Como não posso prever o futuro, prefiro continuar testemunhando a arte executada pelo atual time do Barcelona, capaz de nos confundir se o que vemos é mesmo real ou alguma partida de vídeo game. Pura fantasia!

Fantasia 2

espertos e bobos

Na última semana vi a apresentação de um mágico (ou ilusionista se preferir) onde duas coisas me chamaram a atenção: a habilidade do artista e a reação de parte da plateia. Como num espetáculo de rua, os espectadores cercavam o rapaz formando um círculo. O discípulo de Mandrake, sem cartola nem capa, fez vários números recorrentes destas apresentações: cordas que se emendam, moedas que somem e aparecem nas mãos e bolsos dos voluntários, cartas de baralho e outras mais… Realmente é intrigante testemunhar aquilo de tão perto, mas, não justifica o desejo de boa parte da plateia em desmascarar o artista ou vê-lo errar, o que seria a vitória dos que não aceitavam a condição de enganados passivamente.

Claro que enquanto fazia os truques, o mágico desafiou os “seguidores de Kant” com frases provocativas. Estes, mesmo enganados, davam suas interpretações para a técnica utilizada apesar de apontados como chatos pelos amigos encantados pela magia. Um deles, com ar de superioridade, dizia que não tinha culpa se enxergava o que os outros não eram capazes. Atualmente, vivemos a ideia de esperteza e fantasiar parece coisa para bobos… Ou pior, acreditamos que a fantasia está fadada a viver no território do carnaval ou do sexo.

O mundo pode até ser dos espertos, mas de vez em quando os bobos dão as caras, enquanto os espertos tratam sua gastrite… Como escreveu a genial Clarice Lispector: “Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos”.

E já que é Natal, desejo que o Papai Noel nos traga mais esperteza para vivenciarmos o pleno significado de presente, generosidade e afeto não só no mês de dezembro ou porque é bom para a nossa imagem profissional; esperteza para encontrarmos o difícil equilíbrio entre o que somos de verdade e o que esperam que sejamos; para que não levemos tudo tão a sério; que nossas vidas possam ser vividas com todos os meandros que isto implica, pois uma vida somente projetada nos deixa ainda mais frágil diante de seus acidentes.  Mas este negócio de Papai Noel é coisa para bobos… Enfim, Feliz Natal!

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