No Cinema, Intocáveis Encanta. Nas Eleições, Muitos Querem Se Tornar Intocáveis

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Encontros que Alteram uma Trajetória

Maior bilheteria do ano na França, “Intocáveis” de Eric Toledano e Olivier Nakache definitivamente agradou o público do mundo inteiro. O sucesso despertou comentários sobre o atual cinema francês, que mesmo rotulado como conceitual conseguiu emplacar histórias mais palatáveis ao grande público (vide o anterior sucesso oscarizado de “O Artista”). Acho que tais comentários são oportunistas, afinal o cinema francês sempre foi um dos mais efetivos (li uma vez que é um dos poucos países cuja exibição de filmes nacionais se equipara à hollywoodiana); o Festival de Cannes para muitos é o mais importante do cinema; frequentemente há produções francesas concorrendo ao Oscar de filme estrangeiro (recentemente “Entre os Muros da escola” – de Laurent Cantet e “O Profeta” – de Jacques Audiard); cineastas como François Ozon, Jean-Pierre Jeunet e Alain Resnais são reconhecidos mundialmente e sem contar o contexto histórico de um país que praticamente inventou a sétima arte e a reinventou alguns anos depois com a “Nouvelle Vague”. É óbvio (e legítimo) que algumas produções caiam no gosto popular.

O encontro entre o milionário tetraplégico Philippe (François Cluzet) e o ex-presidiário Driss (Omar Sy), encanta pela transformação dos protagonistas decorrente de uma improvável amizade, construída, ironicamente devido ao seu antagonismo. Desde a entrevista para o trabalho, Driss (pobre, negro e de saúde invejável) não esconde de Philippe (rico, branco e totalmente debilitado) suas verdadeiras motivações. Mesmo assim, o contratante enxerga uma possibilidade naquele candidato inusitado. A partir daí a relação ascende, principalmente pela vitalidade do então enfermeiro, que se transforma nos braços e pernas do aristocrata.

Cabe um aviso aos “soldados do politicamente correto” (sempre atentos!): Ambos se tratam com muita verdade, sem condescendências, sem vitimizações. Em algumas cenas fazem piadas machistas, racistas e não poupam o expectador de verdades que muitos lutam para ficarem bem escondidas. Assim, mesmo com possibilidades abissais, descobrem suas afinidades; o título brinca com isso: a falta de sensibilidade de Philippe é física e de Driss ocasional. O debatido e estéril conflito entre o saber erudito e o popular também rendem ótimas cenas, em especial a do concerto de ópera e aquela em que apuram seus conhecimentos de música clássica. Além da antológica cena em que Driss dança por Philippe (e por todos nós!) ao som de “Boogie Wonderland” do Eart, Wind and Fire.

“Intocáveis” é o pré-candidato francês ao Oscar 2013, concorre com o também pré-candidato brasileiro “O Palhaço” de Selton Mello. Independente de indicação, premiação ou gênero cinematográfico, são exemplos de maturidade do público que começa a prestigiar histórias que vão um pouco além do entretenimento fácil.

Não Obrigado!

Faltando uma semana para as eleições municipais, confesso que não me empolga a situação de nossos candidatos à Câmara Municipal. Diferentemente da corrida à prefeitura, onde a mudança ou a opção de continuidade aparecem com certo frescor, a escolha por um candidato a vereador exige uma observação mais criteriosa.

Não tenho dados estatísticos para comprovar (e não é esta a minha intenção), mas aparentemente percebo um aumento do número de candidatos, principalmente vindos da chamada “classe média”, que a meu ver, parece enxergar o cargo como uma oportunidade ideal, uma resolução para suas aspirações, tal qual o fetiche pelo novíssimo carro coreano que movimentou o mercado. Escrevo isso com conhecimento de causa!

O problema é que tal fenômeno nos coloca diante de um cenário lamentável: ou confiamos em propostas antigas e defasadas, que se estabeleceram no poder como vereadores profissionais; ou damos crédito a aventureiros sem histórico político, com o agravante de vislumbrarem o cargo como profissão e fonte de renda. Claro que não podemos generalizar, afinal sempre há gente politizada e consciente neste processo, o problema é a quantidade…

Nosso aprendizado democrático passa por um período totalmente influenciado pelas mídias (como tudo). Como as propagandas da nossa cidade não ocupa o espaço da maior delas (TV), os apelos midiáticos conseguem ser tão esdrúxulos quanto. É o caso da associação de nome e imagem a figuras famosas, mas de história questionável… Tudo pelo voto! A impressão que tenho ao vê-las é de que estão acompanhadas da frase: “Eu não sei o que faz um Vereador, mas vote em mim que eu descubro e te conto, otário”! É natural, afinal se em seu cotidiano não são politizadas, não é um curso de algumas horas que vai transformar a água em vinho.

Como afirmam Renato Janine Ribeiro e Mario Sérgio Cortella no essencial livro “Política para não Ser Idiota”, atualmente alguns entendem o conceito de liberdade e direito como propriedade ou objeto de consumo e tendem a pensar em seus direitos sem obrigações. Como quem compra um carro e acredita que tem o direito de usá-lo como quiser, muitos exercem seus mandatos assim. Da mesma forma que a ideia do direito ao voto, ocasiona uma relação de consumo. Vota-se naquele que paga mais, que dá um emprego, que conserta o telhado que está caindo ou quem sabe deixa a rua mais enfeitada. Tal comportamento tem nos presenteado com políticos à altura de seus eleitores… Chovem casos na região, onde a população elege quem os representa. E sem essa de voto de protesto! Esse é o retrato de um eleitorado despolitizado.

Infelizmente acho que estamos muito longe de discutirmos com maturidade a obrigatoriedade do voto e suas consequências, que vão muito além da poluição desnecessária dos santinhos e seus candidatos com cara de paisagem e o nosso direito de dizer ao entregador de panfletos: “Não, obrigado”! Ou simplesmente: “Obrigado, não”!

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