A Nossa Copa do Mundo

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Festa Uruguaia em Itaquera

 

 

 

Assistir a uma partida de futebol no estádio é uma experiência única. Ainda lembro a primeira vez que fui a um estádio, na época o acanhado campo do Elvira, que abrigava as partidas do JAC. Obviamente não vou comparar o nível técnico de um jogo de Copa do Mundo com o de uma partida semi-amadora, mas dadas proporções, as marcas são parecidas.

A atmosfera de um jogo no campo é muito ampla, muito diferente do que vemos pela TV. E muito disso se deve à torcida. O jogo em campo também é outro, com mais detalhes, mas estar no meio da massa que vemos catalisada nas transmissões é o melhor da experiência de um estádio.

Tive a sorte de conseguir ingressos para os jogos da Copa em São Paulo, exceto a abertura e a semi-final. Tive mais sorte ainda com o sorteio dos grupos, que me permitiu ver dois campeões mundiais se digladiando, além de um show a parte de duas torcidas apaixonadas por futebol.

Da estação da Luz até Itaquera o clima era de festa. Os ingleses pareciam levar a sério o racionamento de água em São Paulo. Estavam sempre com um copo de cerveja na mão e entoando o canto: “Come on England”! Os uruguaios estavam em maior número, por isso havia muitas famílias, mas os vários “hinchas” espalhados pela Arena torciam como poucos. “Soy Celeste”!

Como em todo evento com muita gente, em alguns momentos houve filas, demora, aglomerações e falta de informação. Apesar de ouvir muitos “Vai Corinthians”! E um tímido “Timão Eô”! Os brasileiros (em grande parte!) não eram frequentadores de estádios, mas ao menos garantiram suas selfies e seus copos de recordação (uns saíam com mais de dez empilhados).

Em campo o jogo foi histórico. A esta altura é redundante falar que Suárez devolveu as esperanças para o Uruguai e eliminou a Inglaterra. Mas isso as câmeras registraram e será mostrado a exaustão.

 

Adeus Fúria

 

 

A goleada sofrida para a Holanda parecia circunstancial. Acreditava que a campeã mundial reagiria contra o Chile, ou pelo menos seria a Espanha que conhecemos. A eliminação na primeira fase foi justa.

A razão é simples e recorrente em Copas. A geração consagrada e vencedora não rendeu como em outros campeonatos. Alguns jogadores estão decadentes? Em má fase? Talvez… Mas ainda acho que se David Silva tivesse feito o segundo gol contra os atuais vice-campeões mundiais, as dúvidas neste momento estariam direcionadas para os holandeses.

 

Empates

 

 

Dizer “não” às vezes faz toda a diferença… Só quem assiste aos jogos do lado certo do sofá, com a camisa da sorte, sabe o quanto isso é importante para o resultado da partida. Durante a Copa do Mundo é preciso ser forte para manter os rituais. Este é o período onde assistir a um jogo vira um evento e até os marcianos passam a entender de futebol, do impedimento à lei da vantagem.

O hino já havia acabado (inclusive o “galvônico” final à capela), e as pessoas no bar ainda conversavam amenidades. O juiz apita de lá, alguém assopra uma maldita vuvuzela de cá. “Vai Brasil”! Grita a mocinha com o rosto coberto de tinta. Com quinze minutos de jogo percebi que a ideia de participar daquela “corrente pra frente” não foi muito boa. Jogo amarrado, nem Brasil nem México, não acontece nada! Um desavisado na mesa do canto pergunta se o time com a camisa laranja é a Holanda?

Neymar cabeceia e o goleiro defende. Alguém puxa o coro: “Le-le-le-ô… Brasil”, que logo é silenciado por uma defesa de Júlio César. Lá pelas tantas só dava para ouvir o murmurinho, que sequer era interrompido pelos famosos: uhh!

Intervalo. Na mesa da frente, outra partida. O craque convidou a moça para assistir ao futebol e pelo visto não estava interessado no empate. Na minha humilde opinião, ele não adotou o melhor esquema tático, mas, em tempos de Neymar, a ousadia pode fazer a diferença, já que aquele ambiente não era adequado para a sedução.

Segundo tempo. O México incomoda, está mais organizado e ganha todas no meio-campo. Nosso craque da mesa da frente muda de estratégia, agora quer impressionar expondo suas opiniões: “Tira esse Paulinho, porra”! Seu desejo não é atendido. O jogo continua modorrento e o murmurinho dá lugar a uma conversa cada vez mais alta, só que agora interrompida por esporádicos “vai” e “uhh”!

O craque tenta a última investida, a mais ousada, fala qualquer coisa no ouvido da moça e parte para o ataque, mas ela está disposta a segurar o 0x0, assim como a muralha mexicana Ochoa. Ele avança para roubar um beijo, ela vira o rosto, diz um sonoro “não”, levanta e vai embora. Ele pede outra cerveja, vê o goleiro mexicano defender a cabeçada de Thiago Silva, mas não reage. Em seguida esbraveja em voz alta para o bar todo ouvir: “Quero ver quando for contra a Alemanha”!

Final de jogo. Há uma mistura de irritação e indignação no ar, mas aos poucos o bar volta a ser o que era e as pessoas continuam bebendo, afinal é Copa meu amigo, tudo é festa! Bate o arrependimento, tive a certeza que o Brasil jogou mal porque eu não estava no meu sofá, com a minha camisa da sorte. Era só dizer “não”, como a moça da mesa da frente.

 

 

O Jogo Antes do Jogo

 

 

Sangue Latino



Após uma Copa pragmática na África do Sul, o futebol parece ter reencontrado sua alegria aqui no Brasil. A alta média de gols e os vários bons jogos neste começo demonstram que há uma atitude mais ofensiva por parte das equipes. Seria o clima tropical e a maneira passional dos latinos influenciando torcidas e jogadores? Talvez até os árbitros?

Não importa! Que seja assim até a final! Que Uruguai, Espanha e Portugal, consigam se redimir em seus próximos desafios (Vai Cristiano Ronaldo!).  Que França, Brasil e Argentina se consolidem como fortes candidatos e que Itália, Alemanha e Holanda continuem dando espetáculo. A Copa está no começo, mas por mim podia ser um torneio de pontos corridos, no clássico “todos contra todos”.

 

Imponderável F.C.



Outro dia li que o futebol é o mais imprevisível dos esportes devido ao número de praticantes. 22 jogadores estão mais suscetíveis ao erro do que 1 ou 6. Faz sentido. É uma maneira de explicar o inexplicável.

Mesmo impreciso, a graça de quem vê e pratica é acreditar que tem tudo sobcontrole, que tem o domínio da situação (nada mais humano!). E como escreveu Guimarães Rosa, “o diabo mora nos detalhes”.

A goleada sofrida pela Espanha diante da Holanda foi surpreendente, mas podia ser diferente! Os atuais campeões mundiais começaram melhor, saíram na frente e deixaram de ampliar o placar num lance do David Silva.

O mesmo não aconteceu com o Uruguai, que foi inferior desde o começo contra a Costa Rica. Mesmo assim, saiu na frente e poderia ter segurado o resultado até o final. Se isso acontecesse, todos diriam que a camisa pesou.

Mas o caso mais inusitado, que ilustra bem o “Imponderável Futebol Clube”, foi o segundo gol da Suíça na vitória de virada contra o Equador. Os sul-americanos tinham aparentemente a última chance de ataque da partida, o seu atacante foi travado no chute pelo defensor suíço que carregou a bola até o meio de campo. Antes da linha central tomou a falta, mas não desistiu da jogada, levantou, tocou a bola para o seu companheiro mais próximo que lançou para o meia aberto na ponta e correu para receber o cruzamento na área e garantir a virada da sua equipe. Em um instante, tudo muda!

 

Começa a Peleja

 


Quando a bola bateu no pé do Marcelo e correu lentamente para dentro do próprio gol, tive a certeza que toda a emoção que não apareceu na insossa cerimônia de abertura ficou guardada para os noventa minutos de bola rolando em Itaquera.

Talvez o problema seja a expectativa, que é igualmente proporcional à frustração, mas no caso, felizmente, e apesar dos sustos, estreamos com uma boa vitória. Além do que, estreias nunca são tranquilas, ainda mais quando se joga em casa, aos olhos do mundo e antes de todos os favoritos.

Por isso, acho que os especialistas estão no seu papel ao apontar o mau posicionamento da defesa nos contra-ataques da Croácia e da má atuação de Fred e Hulk. Também não vi pênalti no lance do segundo gol e fiquei aliviado quando Oscar marcou o terceiro, mas como sou um palpiteiro otimista, fiquei satisfeito com o que vi. A exibição de gala do Oscar e o protagonismo do Neymar foram bons sinais. David Luiz é um gigante!

Como falei tudo passa pela expectativa. Os prudentes preferem os comentários mais “sóbrios” de alguns canais fechados, a turma do buzinaço não vê a hora do próximo churrasco e de sair em nova carreata… Podíamos jogar melhor, mas agora só faltam 6!!!

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