Em meio a acontecimentos inesperados, notícias ruins, perdas e sofrimentos, a palavra “tragédia” nunca esteve tão presente no noticiário como neste começo de ano. E convenhamos, vivemos num país em que tais acontecimentos são recorrentes. Há anos somos afetados por ocorrências que misturam descaso, imprudência, descuido e uma incrível incapacidade de aprender com os próprios erros.
Diante dos inúmeros desafios que o cotidiano nos impõe, facilmente caímos na armadilha de escolher o caminho mais fácil, ligar o automático e simplesmente ir tocando o barco, sem maiores reflexões e quase nada de autopercepção. Num piscar de olhos, nos vemos sem tempo, sem vontade, irritados e incapazes de nos conectar com qualquer coisa (que não seja uma tela!). É nesse cenário que as perdas nos dão uma “chacoalhada”!
Nossa existência é acompanhada de mudanças, estamos sujeitos a elas o tempo todo. Nosso corpo muda, assim como nossas relações com as pessoas e a nossa condição de vida. Muitas vezes tais mudanças acontecem aos poucos, mas quando são repentinas ou inesperadas, transformam completamente nossas percepções.
Além disso, nossa espécie tem a peculiaridade de atribuir sentido às coisas, procurar por aquilo que vale a pena investir esforço, trabalho ou até mesmo a própria vida. Quando nos deparamos com situações de perplexidade, que colocam em cheque o significado que damos a tudo, nossa existência é fragilizada. É quando ficamos diante da tal “condição humana”.
É natural (e saudável) nos solidarizarmos com as vítimas de tragédias ou expressarmos nossa incompreensão diante dos fatos. Mas seria ainda melhor perceber que não estamos imunes a perdas e principalmente, que nossa existência é finita. O medo que sentimos não deveria nos paralisar, ao contrário. Entrar em contato com a nossa fragilidade deveria nos despertar, nos fazer sentir mais vivos e atentos ao que realmente importa. Este é o maior aprendizado que uma tragédia pode nos proporcionar.
Afinal, como diz a belíssima crônica de Marcos Piangers: “A morte não é uma tragédia. A verdadeira tragédia é quando a gente não vive”.
Andrey Cardoso
Psicólogo, especialista em Dependência Química e Psicologia do Esporte
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