
Não sei se fiz boa escolha em relação ao título deste texto, afinal desde que as famosas “fake news” entraram no nosso vocabulário a verdade anda com baixa popularidade e está tão capenga quanto o pirata da perna de pau daquela antiga marchinha… Mas o Carnaval é uma manifestação tão autêntica da nossa cultura que vou arriscar ser mais sincero que a Aurora.
A primeira verdade, na verdade, peguei emprestado da escritora Adriana Falcão, que definiu o Carnaval no seu livro “Pequeno dicionário de palavras ao vento” como a oportunidade praticamente obrigatória de ser feliz com data marcada. Essa definição talvez explique o motivo de esperarmos ansiosamente esses cinco dias de pura felicidade.
A segunda verdade é que, ao contrário do que dizem por aí, as folias de Momo não agradam a todos. Temos dois grupos bem distintos: o dos que gostam de Carnaval e o dos que não gostam.
A terceira verdade é que aqueles que “não” gostam da festa, dizem isso por motivos de força maior, provavelmente porque estão impossibilitados de cair na folia intensamente, sem se preocupar com o amanhã.
Quarta verdade – Todo o mundo (fiz questão de colocar o artigo definido “o” para reforçar a amplitude), teve, tem ou terá um fato marcante durante algum Carnaval! Peça para alguém te contar alguma história dessas e certamente ouvirá verdades absolutas! Foi isso que a minha professora de Português da 8ª série fez quando retomamos as aulas.
Era o meu primeiro ano naquela escola e nas primeiras semanas de aula eu era um estrangeiro numa classe que parecia se conhecer desde o maternal. Quando todos levantaram a mão para contar suas aventuras carnavalescas, não hesitei, também estendi acreditando na ótima oportunidade de integração com os meus novos colegas, afinal pela primeira vez meu Carnaval tinha ido além das matinês do Elvira acompanhado da minha mãe, tias e primos.
Os bailes nos clubes Trianon e Elvira eram bem frequentados (quem era criança ou adolescente nos anos 1990 deve se lembrar…), mas para a minha faixa etária só eram possíveis as matinês, simples assim. Como não tinha 14 anos completos, de noite, só podia frequentar o Carnaval de rua.
Naquele ano aproveitei a confiança da minha família nos meus irmãos e primos mais velhos (que “cuidariam” de mim) e caí na folia. Comecei na saudosa “Banda do Gordo” que saía na sexta-feira e emendei os outros dias com uma descoberta transformadora: a roda de samba.
Para alívio dos meus tutores que obviamente tinham outros objetivos e não seria nada fácil alcançá-los com um moleque a tiracolo, passei as quatro noites seguintes com uma turma que batucava naquelas barracas de bebidas da Avenida 9 de julho. Era a primeira vez que eu via um pandeiro de perto, não sabia a diferença entre repique de mão e rebolo, mas sabia as letras de uns pagodes da época, que tocavam na rádio Transcontinental.
Por isso quando a professora perguntou como tinha sido o nosso Carnaval, naturalmente essa história veio à cabeça. Só que eu era um dos últimos na sequência dos relatos. Antes de mim, todas as histórias se passavam nas noites dos bailes do Trianon. Achei aquela galera muito “prafrentex” para a minha roda de samba! Quando chegou a minha vez, peguei o embalo da massa, disse que tinha ido uma noite no Elvira e outra no Trianon, e que tinha sido normal. Contei com a mesma convicção que a turma, que em sua maioria, também tinha a minha idade… Acho que convenci, pois ninguém veio me falar que não me viu nos clubes.
Quinta verdade – Toda história de Carnaval é “baseada em fatos reais”!