O patrimônio físico e cultural de Ruth Escobar, que foi uma das figuras mais atuantes do cenário cultural brasileiro, está em risco. A afirmação é dos próprios familiares da atriz e produtora teatral de 76 anos.
Escobar sofre de Alzheimer desde 2000. Em 2006, a pedido de sua filha Patricia Escobar, a Justiça interditou a produtora – seu patrimônio passou a ser gerido por um escritório de advocacia.
Segundo Patrícia, a curadora de seu patrimônio não está cuidando direito do mesmo e desconhece seu legado. Ainda de acordo com ela, as fotos e os materiais de teatro nos arquivos estão apodrecendo.
Ruth Escobar é um dos principais nomes do teatro brasileiro. Atriz e produtora, se destacou na vanguarda do gênero nos anos 1960 e 1970, com sua companhia Nova Teatro, com a abertura da casa com seu nome em São Paulo e com a realização do 1º Festival Internacional de Teatro em 1974, entre outras importantes contribuições.
Nascida na cidade do Porto, em Portugal, em 31 de março de 1936, Maria Ruth dos Santos Escobar se mudou para o Brasil em 1951. No país, casou-se com o filósofo e dramaturgo Carlos Henrique Escobar, com quem, em 1958, foi para a França, onde fez cursos de interpretação.
Ao voltar para o Brasil, fundou a companhia Novo Teatro, ao lado do diretor Alberto D’Aversa. Ali, protagonizou peças como “Mãe Coragem e Seus Filhos”, de Bertolt Brecht, em 1960, e “Antígone América”, escrita pelo marido, em 1962.
No ano seguinte, Ruth inaugurou o teatro com seu nome em São Paulo. A peça de abertura foi “A Ópera dos Três Vinténs”, de Brecht e Kurt Weill, que foi dirigida por José Renato, e tinha Ruth no papel de Jenny Espelunca. O teatro abrigou, durante a década de 1960, peças como “O Casamento do Sr. Mississipi”, de Friedrich Dürrenmatt, dirigida por Jô Soares, e “Lisístrata”, com tradução de Millôr Fernandes e direção de Maurice Vaneau para a obra de Aristófanes.
O ano de 1964 ficou marcado pela criação do Teatro Popular Nacional. Ruth transformou um ônibus em palco e apresentava os espetáculos na periferia de São Paulo. O projeto durou até o ano seguinte. Também em 64, a atriz e produtora recebeu o Prêmio Governador do Estado, em homenagem à construção do Teatro Ruth Escobar.
Já casada com o arquiteto Wladimir Pereira Cardoso, que se tornou cenógrafo da companhia, Ruth começou a trabalhar também no Rio de Janeiro. Em 1968 foi uma das produtoras de “Roda Viva”, polêmica peça de Chico Buarque que teve sessões invadidas pelo Comando de Caça aos Comunistas e chegou a ser proibida pela censura. Ruth também atuou na peça.
Em 1969, a encenação de “O Balcão”, a cargo do diretor Victor Garcia, recebeu todos os prêmios de teatro do ano. O prestígio de Ruth Escobar o levou a receber o prêmio Roquette Pinto de personalidade do ano.
O início dos anos 1970 foi marcado pela oposição ao regime militar – a fundação do Comitê da Anistia Internacional aconteceu em um de seus teatros. Também nessa época, Ruth se envolveu em polêmicas com a montagem de “Missa Leiga”, que teve de ser feita em uma fábrica após a proibição do uso da Igreja da Consolação.
O próximo passo ambicioso foi dado em 1974, quando Ruth organizou o 1º Festival Internacional de Teatro, trazendo nomes como o americano Robert Wilson, que teve o nome de sua peça “Time and Life of Joseph Stalin” mudado para “Time and Life of David Clark” por determinação da censura. Ruth ainda organizou mais dois festivais com o mesmo nome, um em 1976 e outro em 1981.
Nos anos 1980, Ruth se afastou do teatro. Foi eleita deputada estadual em São Paulo por duas legislaturas e dedicou seus mandatos a projetos comunitários. Em 1987 lançou “Maria Ruth – Uma Autobiografia”, em que repassa sua vida e carreira.
Retornou aos palcos em 1990, em uma encenação de “Relações Perigosas”, de Heiner Müller e com direção de Gabriel Villela. Em 1994, voltou a produzir festivais internacionais, que duraram até 1997, com o nome Festival Internacional de Artes Cênicas. Em 1998 recebeu, do governo francês, a condecoração da Legião de Honra.
Com informações do Ig.
Confira as imagens de uma entrevista com a atriz, em 1988:
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