A colônia sírio-libanesa em Jacareí, assim como em grande parte do Brasil, destacou-se no comércio, principalmente de tecidos. Sérgio Esper, de 67 anos, lembra que na década de 1950, ainda menino, ajudava o pai no comércio na rua Dr. Lúcio Malta (próximo ao Mercado Municipal). “Naquela época a gente ficava cuidando da loja, enquanto papai viajava a cavalo para vender roupas em cidades vizinhas”, lembra.
Juliana Madid, descendente de sírios, conta que o bisavô Jorge foi o primeiro da família Madid a chegar a Jacareí, no final do século 19. “Ele veio sozinho e começou a mascatear. Com o dinheiro que juntava foi trazendo aos poucos os familiares. Primeiro começou com os irmãos, depois os cunhados e primos”, conta. A família Madid foi a responsável pela instalação da fábrica “Meias Vitória”, em 1924 – em 1948, foi vendida e passou a se chamar “Meias Avante”.
Além do comércio e indústria, Juliana confirma que se mantêm vivas as tradições da cultura árabe. “A culinária, sem dúvidas, é a mais forte. Quase todo dia tem kibe, esfiha, abobrinha recheada ou charuto de repolho”, diz.
A historiadora Ana Luiza do Patrocínio, que coordenou a pesquisa para a realização da Semana Árabe destaca que uma das grandes características dos sírio-libaneses é o empreendedorismo. “Começavam a vender tecidos de porta em porta, logo alugavam uma salinha, que em breve era transformada em lojinha.”
Ela afirma que, passado mais de um século da chegada dos primeiros árabes a Jacareí, o comércio continua sendo a principal área de atuação dos sírio-libaneses. “Apesar da instalação de grandes magazines, ainda se mantêm as “lojinhas” de roupas, móveis e eletrodomésticos na região central. Temos ainda duas indústrias e concessionárias administradas por famílias de origem árabe”, comenta.
Problemas com o nome –Esper, Isper, Sper… é comum para muita gente ter dúvida quando se trata de escrever o sobrenome de origem libanesa, popular entre moradores de Jacareí. Há quem diga que realmente os sobrenomes são de três diferentes famílias que imigraram para Jacareí no final do século 19.
Mas a dona de casa Esmênia Esper de Araújo, descendente de Amin Esper, o primeiro libanês a chegar em Jacareí, esclarece que na verdade todos são da mesma família “Esper”, e que a diferença está apenas na grafia por conta de um “mal entendido”.
“O que aconteceu é que o sobrenome foi registrado de várias formas no cartório pelos próprios libaneses, que não sabiam falar português direito e eram mal entendidos pelos escrivães da época. Na hora de registrar o nome dos filhos no cartório, nem sempre o escrivão entendia direito e aí o ‘Esper’ saía cada hora de um jeito”, explica Esmênia, com base em relatos que ouviu ainda na infância do pai libanês. “Por isso hoje temos Esper, Isper e Sper, mas é tudo gente da mesma família. Eu, por exemplo, tenho irmão que é ‘Sper’”, completa.