“Ser diferente junto é mais fácil. Quando me descobri fora do Preventório eu senti diferente sozinho… Mas já não tenho medo.” A fala é do garoto Joaquim, um dos personagens de Má Pele, que estreia amanhã em Jacareí. O espetáculo traz à tona o drama vivido por crianças e adolescentes, filhos de pais portadores da hanseníase, que eram retiradas do convívio familiar e trazidas para o Preventório de Jacarehy, entre os anos de 1932 e 1952, conforme a política de saúde pública da época.
O trecho acima revela um misto de medo, indiferença, saudade, solidão, persistência, coragem e esperança, sentimentos que permeiam o espetáculo, centrado em Joaquim e mais três personagens: Lazinho, Joana e Camila.
Lazinho é um garoto comum, que se diverte apanhando goiaba verdolenga no pé. Mas um dia é levado bruscamente para o Preventório, onde tem dificuldades para se adaptar às regras do local e ao mesmo tempo superar a saudade dos pais. “Eu ficava lá pelo costume de esperar mesmo”, diz o garoto, em determinado momento do espetáculo, que passa meses olhando o trem na esperança de que traga o seu pai. Mesmo drama é vivido pelas garotas Joana e Camila. “Eu já fugi (do Preventório) porque não me identifico com nenhuma instituição, com nenhum grupo, com nenhuma família… eu sou a minha própria família”, diz Camila em uma das cenas.
O diretor Edgar Castro comenta sobre a carga dramática que caracteriza o espetáculo. “Estamos tratando de um campo emocional que não é dos mais felizes. Essa violência da Saúde Pública que caracteriza o período, essa falta de cuidado com os laços familiares”, expõe. “Quando começamos a montagem, notamos que não há um episódio, um fato espetacular, como um incêndio de grandes proporções, por exemplo, que gerasse uma fábula, uma lenda. O nosso apoio são as narrativas, os relatos pessoais. Então veio a tentativa de criar vozes para os indivíduos que vivenciaram esse drama. E isso exige de nós sensibilidade e delicadeza para a realização do espetáculo”, acrescenta Castro.
O Grupo – “Aqui Trem – Histórias da Ferrovia” foi o primeiro trabalho do grupo teatral 4 Na Rua é 8, realizado em 2010, com direção de Márcio Douglas. Em 2012, o grupo realizou a montagem do espetáculo “De Quem É a Rua Então?”, dirigido por Ednaldo Freire. Nesse mesmo ano montou o espetáculo “Rua Quixote”, de Miguel de Cervantes, dirigido por Juliana Monteiro. Em 2013, o grupo criou “Somos Todos Severina”. O grupo é formado pelos atores: Camila Florentino, Juliano Mazzuchini, Lucila Andreozzi e Miguel Ramos, que estão no elenco de “Má Pele”. Serviço – Teatro “Má Pele” — até 28/2 – às 20h – Museu de Antropologia do Vale do Paraíba – Rua XV de Novembro, 143, Centro. Ingressos gratuitos retirados com meia hora de antecedência.