
Quando uma pessoa amada sofre frequentemente mentalizo um dos inúmeros ensinamentos da minha mãe: ainda que eu tenha alguma familiaridade com a experiência jamais saberei como esse alguém especial se sente.
Precisamos ter cuidado com o “eu sei como é” que sai da nossa boca com tom de generosidade, mas pode transformar um desabafo num sermão sobre a grande arte da superação dominada por nós, que nem de longe somos o assunto da conversa.
Há alguns anos passei por uma situação que minha mãe também viveu quando eu era criança e não imaginava que me enfraquecer física e mentalmente a ponto de querer escapar de todos os meus órgãos e ossos era possível.
Ela ficou ao meu lado o tempo todo e quando o alívio pelo fim do tormento veio, me disse: “passei pela mesma tristeza, mas não tenho ideia do seu sentimento. O que farei é te acompanhar e te ouvir”
Substituí a dor por um futuro comprometido em viver a sabedoria de uma frase que talvez minha mãe nem se recorde de me dizer.
Somos pessoas de corações partidos, amigos e amigas que sacanearam e foram sacaneados, vivemos lutos, demissões, inseguranças. Vivências nos aproximam, mas as feridas jamais têm a mesma profundidade.
Às vezes apenas ouvir é o cuidado que elas necessitam, o limpar, assoprar, esperar cicatrizar. “Mas o que eu vou dizer?”
Por acaso é necessário lançarmos mão de discursos prontos para dissipar momentos de tristeza?
Deixemos que eles aconteçam, sejam vividos e ressignificados, ganhem uma nova dimensão.
Tenhamos generosidade e sabedoria para entender quando o choro do próximo não é sobre a gente.
Acostumadas e acostumados aos barulhos das nossas atitudes, precisamos lembrar que silêncio também é amor.
DéboraSConsiglio