Dia da saudade

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Descobri através de um post de uma empresa funerária que 30 de janeiro é o “dia da saudade”. Sim, enquanto uns choram… Ainda assim, o oportunismo informativo me fez refletir o sentido de se evidenciar tal data, para além das vendas. Seria um dia para lembrar ou esquecer?

Reza a lenda que numa noite de primavera o cantor e compositor Chico César estava a caminho da casa do também cantor e compositor Paulinho Moska, quando se deparou com a imagem de uma lua imensa refletida na Lagoa Rodrigo de Freitas. Quando chegou ao seu destino Chico não conteve sua empolgação ao descrever a situação para o amigo, disse que aquilo despertou uma saudade do tamanho daquele reflexo. Quando o anfitrião perguntou de quem ele sentiu saudade, ouviu que não era de ninguém, era só saudade! Naquela mesma noite compuseram a lindíssima “Saudade”, imortalizada na voz da Maria Bethânia.

https://www.youtube.com/watch?v=P1MSvn7dCPkDia da saudade

Dizem que a palavra saudade só existe no vocabulário da Língua Portuguesa. Talvez tecnicamente seja verdade, mas o sentimento é universal. Qualquer ser humano, que vive nas maiores cidades ou nos rincões do planeta, já experimentou a falta de alguém, a vontade de reviver um momento ou teve a sensação de que algo que foi bom não acontecerá novamente.

Um outro componente da saudade que não é tão falado quanto o vazio deixado por algo que não existe mais, está relacionado ao sentimento de esperança. Quando nosso desejo não se concretiza, ou pior, a realidade nos afasta completamente do que buscávamos, sentimos falta de algo que sequer aconteceu! É a famosa “saudade do que não vivi”, que ficou célebre nas palavras de um craque do nosso futebol. Perder a esperança pode ser uma experiência devastadora. O contrário do medo não é a coragem, mas sim a esperança.

Eu sempre fui nostálgico! As memórias sempre foram ótimas companhias e, mais que visitá-las, acredito que construí-las é uma prática que deve ser estimulada. Mesmo quando algo parece irrelevante enquanto acontece, não o subestime…

Outro dia encontrei a marmita de alumínio que me acompanhou durante os dois anos que fiz um curso profissionalizante, lá na minha adolescência. Tinha o meu nome escrito com o esmalte roxo que peguei da minha mãe sem o seu consentimento. Automaticamente vieram todas as lembranças da época, das bagunças diárias entre os amigos de curso aos piores perrengues, que pareciam insolucionáveis, mas comparados aos de hoje soam insignificantes (como era bom não ter boletos para pagar!). Comer comida requentada me irritava, mas se pudesse, não pensaria duas vezes em reviver aqueles momentos novamente.

O saudoso poeta Mário Quintana escreveu que “o tempo não para, só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo”. Ter um dia específico para a nostalgia de um tempo que já passou, a ausência doída de alguém que não veremos nunca mais ou a beleza do reflexo da lua na lagoa, talvez não seja tão significante quanto sentir tudo isso. No fim das contas pode ser tão simples quanto a resposta dada pelo Chico César… É só saudade!

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