Quem Habita a Sua Sala de Estar?

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Sala de EstarSala de Estar

Mais uma vez se sentou no lugar de costume, como fazia todos os dias, neste mesmo horário. E como num gesto involuntário respirou fundo e plantou o olhar no absoluto nada a que se remetia a parede da sala.

Tudo estava lá, no seu devido lugar como sempre esteve. Mesmo assim sentia a necessidade de observar cada detalhe, que já conhecia tão bem.

A começar pela cômoda de madeira que sempre a incomodava por pegar poeira com muita facilidade. Sobre ela a passadeira de linho bordada à mão e o castiçal que nunca foi usado.

Do lado oposto a cristaleira antiga e lustrosa, com todos aqueles copos e taças que em sua maioria nunca fizeram um brinde sequer.

Na mesma parede, o grande quadro de moldura grossa com detalhes talhados, continuava milimetricamente posicionado. Sua paisagem tão bela perdia a graça na palidez da sala.

As duas cadeiras de estofado vermelho, pouco usadas, bonitas e desconfortáveis, faziam par com o conjunto de sofás de couro marrom café, mesmo sem combinar muito.

E para completar a decoração o velho tapete indiano, que apesar de colorido não dava vida ao ambiente.

Há anos que nada mudou. E o que era para ser uma agradável sala de estar não passou de uma sinistra sala. De cortinas claras, mas de interior escuro. De ambiente leve, mas de clima pesado.

Depois de muitos anos, hoje, ao olhar em volta, num breve relance, acabou percebendo que não basta sentar no lugar de sempre para que a vida passe sossegadamente.

É preciso movimento constante para que o ar possa circular e assim se tornar desnecessário parar para pensar que um dia ela vai se acabar.

A partir daí começou a passar menos tempo com sua sala vazia e mais tempo consigo mesma.

Nosso coração tem janelas imensas que deixam seu interior iluminado, por isso precisamos que pessoas o habitem, para constantemente abrir e fechar essas janelas.

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