Confira “Prometheus”, ótima ficção científica de Ridley Scott

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Somos uma Experiência que não deu Certo

Prometheus

No cinema, o gênero ficção científica sempre foi terreno fértil para grandes produções. Ao contrário do que muitos dizem, os grandes clássicos deste filão falam mais das realidades de suas épocas do que sobre futuros possíveis. Histórias sobre universos paralelos, seres intergalácticos superdesenvolvidos ou androides humanizados num futuro caótico e opressivo servem como metáfora do presente ou estratégia mercadológica para criar marcas e arrebanhar nerds, cinéfilos e afins. Tudo certo, afinal a indústria do cinema em geral tem este objetivo, apenas acho muito pretensioso o caráter científico de algumas produções, que assumem importância equivalente a clássicos de escritores do calibre de George Orwell, Aldous Huxley e Arthur C. Clarke.

Em “Prometheus”, retomada de Ridley Scott à ficção científica, temos todos os elementos que citei, porém com uma ressalva: o cineasta britânico acerta por não ter a pretensão de estabelecer uma teoria científica. Sua receita funciona devido às diversas camadas do roteiro, um pastiche de ideias sobre a origem do homem no universo e também de homenagens aos grandes clássicos do gênero. Assim como ocorre em “Matrix” ou em “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, alguns significados tomam forma de acordo com o repertório (ou crença) do espectador. A começar pelo nome do filme, que remete ao mito grego do titã Prometeu.

A história acontece em 2094, onde uma expedição científica a bordo da nave Prometheus busca a origem da raça humana em outro planeta. A tripulação é comandada por Meredith Vickers (Charlize Theron) e pelo androide David (Michael Fassbender), responsáveis pela contratação da arqueóloga Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e sua equipe. A princípio, o interesse dos contratantes era privatizar a descoberta para uma megacorporação, porém quando surgem os primeiros conflitos percebemos a existência de outros interesses.

Justamente com os conflitos da tripulação (confinada e diversa como num “Big Brother”) vemos algumas realidades nada futurísticas: a crise moral, cada vez mais aflorada pela confusão entre ciência e esoterismo e pelo poder corporativo; além da questão (não menos moral) na relação perigosa entre criador e criatura.

Ao mostrar o desapontamento dos nossos “criadores” pelo que nos transformamos, e que somos uma experiência que deu errado, para mim, Scott fala do homem contemporâneo, que endeusa teorias científicas; credita a cura para as suas dores à uma busca no Google; acredita na aquisição rápida e eficaz da felicidade (pelo cartão de crédito ou em suaves prestações); não sabe lidar com a própria miséria e ainda se diverte apontando a dos outros; busca incessantemente a eternidade; é incapaz de lidar com as suas frustrações; tem a sensibilidade compatível ao seu desejo de procriar; equivale o valor de uma vida ao de um aparelho celular; paga ingresso para assistir a outros homens se esbofetearem até sangrar dentro de um ringue; acredita que deve defender um território (como se pertencesse a ele), que só aquele que pensa  e age como ele merece dividir a honra de sua existência. Mas nem tudo está perdido… O homem contemporâneo ainda é capaz de atos solidários com aqueles que não tiveram as mesmas oportunidades que ele (coitados!), afinal isso o engrandece aos olhos de seus superiores (divinos ou corporativos).

“Prometheus”, ainda reserva um verdadeiro banquete de referências aos amantes da sétima arte. Principalmente através de seu personagem mais interessante, o androide David, que nos remete à “Blade Runner”, “Contatos Imediatos de Terceiro Grau”, “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, “Lawrence da Arábia”, “O Iluminado” e “Alien – O oitavo passageiro”. Aliás, o filme de 2012 dá conta da origem do monstrengo homônimo do filme de 1979; trata-se de um prólogo do clássico. Mais um ponto para a produção de Ridley Scott; quando o filme termina dá uma vontade imediata de rever a Quadrilogia Alien… Nada mais científico.

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