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O documentário “Seu Justino – O Ribeirinho de Jacareí” estreia nesta sexta-feira (29), às 19h30, no Pátio dos Trilhos, em sessão ao ar livre da Caravana do Cinema Brasileiro.
‘Seu Justino’, mais conhecido como Tinguera e morto em 2008, transformou-se numa figura lendária. Com seu paletó surrado, caminhava com o auxílio de muletas e carregava as inseparáveis viola e maleta, e por muito tempo percorreu as ruas do centro de Jacareí, provocando risos por parte de alguns e admiração de outros.
“Creio que seja difícil encontrar alguém que nasceu em Jacareí e nunca tenha ouvido falar do ‘Tinguera’. É só mencionar este nome que a pessoa já muda o olhar e começa a contar um causo”. A observação da artista plástica Edna Cassal tem lá suas razões. O saudoso Tinguera foi provavelmente mais que uma lenda. Foi um personagem marcante da cidade, inspirando inclusive artistas como Jaime Alem (maestro de Maria Betânia) e o cantor e compositor Tuia Lencioni.
“Queria desenvolver um projeto que se relacionasse com a história da cidade. Surgiu a ideia do ‘Tinguera’. Aí começamos a rever este personagem com o objetivo de contar sua história de verdade. Não queríamos nos ater somente ao cara mal-humorado que xingava com palavrões quando era provocado”, relata Edna.
O documentário – começou a ser rodado em 2012. Composto por depoimentos e também uma animação em 2D, com 8 minutos de duração, que ilustra o acidente que resultou na amputação da perna esquerda. Os desenhos foram feitos pela própria Edna Cassal. “Há muita controvérsia sobre como foi realmente o acidente. A animação revela realmente como tudo aconteceu”, garante.
Além do cantor e compositor Tuia Lencioni, do músico Jaime Alem e dos artistas plásticos José Carlos Cruz, Mir Cambusano e Raico, cujos depoimentos estão no documentário, foram entrevistadas pelo menos 40 pessoas que conheceram de perto ‘Tinguera’. “Em cada entrevista, fomos descobrindo informações que desmitificam muita coisa a respeito dele. Por exemplo, a fama de que ele era bêbado. Na verdade, ele não bebia, se alimentava de água e pão na maioria das vezes, e era devoto de Nossa Senhora Aparecida e São Gonçalo”, revela Edna. “Descobrimos também que houve ainda um comerciante que o registrou como porteiro, para que ele tivesse assegurada a aposentadoria”, completa.
“Seu Justino” – Justino Ribeiro nasceu, em 1926, na zona rural de Jacareí, mas ganhou fama na cidade como Tinguera – apelido que ele considerava um insulto. Por isso, toda vez que alguém gritava ‘Tinguera’ já podia esperar por uma chuva de palavrões. “O que na época era motivo de diversão para a molecada”, lembra Alberto Capucci, diretor de Preservação da Fundação Cultural de Jacarehy.
Segundo a produtora Edna Cassal, foi durante uma das entrevistas que descobriu que o apelido ‘Tinguera’ na verdade deriva da palavra ‘tiguera’ (que, conforme o dicionário, significa destruído, assolado) e vem do falar típico de moradores que viviam na área rural.
“Uma das moradoras do bairro Bom Jesus, onde ‘Seu Justino’ nasceu e cresceu, e que o conheceu, disse que ‘as pessoas da roça’ costumavam chamar de ‘tiguera’ a erva daninha que atrapalhava o cultivo das plantações. Porém, numa pronúncia bem coloquial, tiguera acabou virando ‘tinguera’. Por isso, a revolta do ‘Seu Justino’ quando o chamavam pelo tal apelido”, explica Edna Cassal. “E com razão, porque imagina uma pessoa que trabalhou na roça desde criança ser considerada uma erva daninha!”, conclui.
Serviço – Documentário “Seu Justino – O Ribeirinho de Jacareí” – 45min – Produção Tinguera Produções – Exibição gratuita, dia 29 de novembro, às 19h30, pela Caravana do Cinema Brasileiro, no Pátio dos Trilhos.
