Confira O Artista e A Separação; Onde Guarda O Seu Preconceito?

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O Artista

O Artista

Se você tem algum receio de ficar entediado ou não se sente capaz de acompanhar o ritmo de um filme mudo, é melhor não tentar assistir ao extraordinário “O Artista”. Sim, é um filme fora de seu tempo, mas longe de ser visionário ou de vanguarda como muitos dizem, afinal e (obviamente) trata-se de uma homenagem à era romântica da sétima arte, e não de uma proposta visionária.

Fazer um filme mudo com tudo que a linguagem utilizava na época em plena era digital e do 3D, não deixa de ser uma ironia em relação à transição e à todas as questões existenciais que o personagem George Valentin (Jean Dujardin) vive, afinal qualquer mudança é o caos. Em “O Atista” vemos, como em “Crepúsculo dos Deuses” de Billy Wilder, o ocaso de uma estrela que não consegue migrar do cinema mudo para o falado. É salvo justamente por uma ex-fã: Peppy Miller (Bérénice Bejo) que se transforma no símbolo dos novos tempos.

No mais, tudo foi pensado (e transformado) de forma poética. Desde a trilha sonora até a atuação do cachorrinho Uggie, que já ganhou até campanha nas redes sociais por um premio especial da Academia. O cineasta francês Michel Hazanavicious também faz bom uso da metaliguagem para anunciar as tempestades na vida do protagonista, ou o término delas.

Seu grande mérito artístico é se arriscar através de um formato pouco utilizado no cinema contemporâneo e, mesmo com tanta tecnologia a mão se conter em não inventar moda. Não será nenhum absurdo se, como muitos apostam, “O Artista” for o grande vencedor do Oscar 2012. Vale a pena conferir.

O Antagonismo Cotidiano

a separação

O filme iraniano “A Separação” de Asghar Farhadi, é daqueles cujas imagens ficam borbulhando nas ideias de tão poderosas. Favoritíssimo ao Oscar de filme estrangeiro é a confirmação de um dos cinemas mais festejados do mundo e que curiosamente vive um dos momentos de maior repressão ideológica/intelectual de sua história, um prato cheio para seus realizadores (mesmo confinados).

E se é de contradições que a produção de qualidade iraniana se abastece, Farhadi consegue nos atrair para o seu labirinto que a princípio nos parece bem familiar: um casal em processo de divórcio porque a mulher quer deixar o país com a filha enquanto o homem não quer acompanhá-la pois o pai tem Alzheimer. Ele decide contratar uma moça para cuidar da casa devido à ausência da esposa, e aí começa outra história.

Há um incidente… Uma série de versões sobre ele; a religião da moça contratada, sua gravidez, seu marido impulsivo, as diferenças de classes social e o tribunal onde isso tudo é discutido (que lembra o nosso “pequenas causas”).

O conflito toma proporções morais tão sutis que é quase impossível tomar partido na história. Neste ponto, fica evidente a intenção do diretor de explorar todas as feridas abertas naqueles duelos; da degradação que se chega numa situação de antagonismo que é mal assimilada. Muitas destas vezes nos tornamos violentos (verbal e fisicamente) sem motivo aparente.

Outra coisa que me chamou a atenção foi o temor que a empregada (Razieh) tem pelo castigo divino. Não tenho o menor interesse em aderir o islã como religião, mas fico admirado com a facilidade com que os fiéis “chapa branca” do lado de cá se arranjam e desarranjam rapidamente com seus problemas morais… Além de tudo, “A Separação” ensina um pouquinho os crentes do ocidente o que é ser temente a deus.  

De sutileza em sutileza, o iminente vencedor do Oscar nos aponta nossa velha mania de confronto em detrimento à esquiva.

Bem Perto de Você

Racismo

Diante de um grupo de manifestantes a favor da diversidade que invade um Shopping elegante de São Paulo, uma senhora dá a sua opinião ao jornalista: “Achei ridículo. Afinal de contas, esse negócio de racismo onde é que está? Olhem os seguranças… Este Shopping está cheio de seguranças negros, de empregados, o que mais esta meninada quer?”

O mestre Tostão escreveu em sua coluna de domingo: “Somos todos preconceituosos. Uns mais que os outros. Ter consciência e ser contra um preconceito não dá certeza de que ele não exista. De repente, sem avisar, um preconceito surge, das profundezas da alma, no pensamento, nas palavras, nos gestos, nos atos”.

E o seu? Onde está?

 

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